No cenário financeiro brasileiro, o ano de 2023 foi marcado pelo notável sucesso dos títulos de renda fixa isentos de imposto de renda, como letras financeiras e certificados de recebíveis. Os dados revelados pelo balanço da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, divulgado recentemente, apontam para um aumento expressivo de 37% nos investimentos nesses papéis, alcançando a cifra impressionante de R$ 1,1 trilhão.
Contudo, esse destaque no mercado não passou despercebido pelo governo, que implementou mudanças visando restringir o lastro e prolongar os prazos de vencimento desses instrumentos financeiros. Na última semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou alterações nas regras, elevando os prazos mínimos de vencimento para 9 meses nas LCAs e para 12 meses nas LCIs e LIG.
Esses títulos, emitidos por instituições financeiras, são acompanhados de uma camada adicional de segurança para os investidores, por meio da cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que oferece garantia ordinária de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, em investimentos para cada instituição financeira associada, em caso de insolvência.
Além disso, outros produtos de renda fixa incentivados também apresentaram desempenho notável em 2023. Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) registraram um aumento expressivo de 55,8%, atingindo a marca de R$ 63,7 bilhões. Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) também acompanharam essa tendência, alcançando um volume de R$ 94,9 bilhões, representando um crescimento de 31,4%. Já as debêntures incentivadas tiveram um aumento mais modesto, atingindo R$ 85,4 bilhões, uma alta de 11,3%.
Importante ressaltar que as alterações anunciadas pelo CMN não impactam o estoque atual de CRAs, CRIs, LCIs, LCAs e LIG, nem afetam os papéis que já tiveram as ofertas de distribuição requeridas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sendo aplicáveis apenas às novas operações.
No âmbito geral, os investimentos dos brasileiros totalizaram impressionantes R$ 5,7 trilhões em 2023, representando um aumento de 14% em relação ao ano anterior, conforme apontado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. O varejo tradicional e o segmento private (clientes mais ricos) foram os grandes impulsionadores desse crescimento, com altas de 14,3% e 13,8%, respectivamente.
Apesar do início do ciclo de corte de juros em agosto, que impulsionou um crescimento de 16,5% nas aplicações de renda variável, a renda fixa ainda mantém uma posição dominante, representando 82% da carteira no varejo e 35,4% no segmento de altíssima renda. Surpreendentemente, os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) continuam sendo os preferidos, acumulando o maior volume da carteira, totalizando expressivos R$ 874 bilhões.
Diante desse cenário, 2024 se desenha como um ano movimentado para os investidores, especialmente no que diz respeito a papéis com maior apetite a risco em longo prazo. O presidente do Fórum de Distribuição da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Ademir A. Correa Júnior, destaca a ampliação do acesso a ativos por parte do cliente do varejo, impulsionado pela redução do tíquete médio e pela influência positiva dos chamados influencers, que têm desempenhado um papel crucial na democratização do acesso à informação financeira.
Fonte: Valor Investe